Não são só as situações de contacto directo com tais "mimos" que me deixam mal disposto. Vivemos numa sociedade hipócrita, onde algumas classes usam e abusam desses comportamentos, e nos tratam a nós, comuns mortais, como autênticos otários que engolem os sapos e seguem a sua vidinha como se nada tivesse acontecido.
Posso começar por falar na classe política, onde salvo raríssimas excepções, e são mesmo muito raras, não há nada que saia da boca de quem nos (des)governa que não soe a falso. Que merda de líderes nós temos, que se preocupam mais em fantochadas como fornecer computadores aos alunos da primária, do que em investir a sério na melhoria do ensino e na formação desses mesmos alunos.
Na recente vaga de frio que assolou Portugal, revoltou-me ver a celeridade com que a Câmara Municipal de Lisboa se prontificou a pôr em marcha um plano especial de contingência para apoiar os sem-abrigo, isto porque iam estar umas noites com temperaturas muito baixas. Não estou contra o apoiar-se quem precisa, muito pelo contrário, mas será que só deram conta que os sem-abrigo existem e precisam de ajuda, porque ia estar muito frio? É que quando voltar a estar só fresquinho, e não muito frio, os sem-abrigo vão continuar nas ruas, mas pelos vistos eles aí já vão ter que se desenrascar sem poder contar com o apoio camarário.
Hoje de manhã, ao ouvir o noticiário a caminho do trabalho, fiquei perplexo com mais uma pérola da hipocrisia que nos rodeia, e vinda duma imponente figura da nossa sociedade. Numa tertúlia na Figueira da Foz, o O Cardeal Patriarca de Lisboa alertou as jovens para o "monte de sarilhos" que é casarem com muçulmanos. Então, o lema do "amar o próximo" afinal é só conversa da treta?
Que fique bem claro que sou Católico por opção própria, embora assuma, sem qualquer pejo, estar desde há algum tempo de relações cortadas com a Igreja, por motivos que só a mim dizem respeito. Não me parece que seja com discursos destes, ou com a manutenção de lógicas retrógradas como ser abominável o uso de métodos contraceptivos, que a Igreja vai cativar as pessoas. Enfim, é este o mundo em que vivemos.
A hipocrisia existe, e existirá, como soberano absoluto de todos os poderes humanos, porque precisamos do tecido felpudo e opaco das mentiras para cobrir tudo o que por baixo da roupa nos resta ainda de hircino, de viloso e de selvagem. (Paolo Mantegazza)
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