sábado, 14 de fevereiro de 2009

a loira e a morena

Entre outras coisas más, estar a trabalhar longe de casa tem o grande inconveniente de me deixar apenas o fim-de-semana para poder sair com os amigos, ir jantar, beber um copo, pôr a conversa em dia, coisas desse género.

Este sábado era minha intenção fazer precisamente isso, já depois duma ida à cabeleireira para uma tosquia e duma deslocação à Loja do Cidadão para tratar da renovação do BI.

O facto de estar a tentar curar uma gripe, onde um dos pressupostos essenciais é não sair de casa, obrigou-me a adiar a totalidade da minha agenda para o dia, o que, neste sábado em particular, me deixou a modos que fulo. Não fosse eu estar de molho e ia ter a oportunidade de passar o dia muitíssimo bem acompanhado por duas das minhas amigas mais próximas, sendo que com uma delas já estava tudo combinado para passarmos a tarde juntos, e com a outra tudo indicava que o meu convite para jantar seria aceite, pelo que ia ser também um óptimo serão.

Aquilo que podia ser um dia em cheio, passou a ser um dia cheio de nada e em vez da companhia de duas meninas encantadoras passei o dia com a tosse, os espirros, o nariz entupido e o ouvido esquerdo tapado, o que não é bem a mesma coisa.

Tem o seu quê de curioso que, apesar das duas ainda não se conhecerem pessoalmente, e digo ainda porque é minha intenção que se conheçam em breve, estas minhas amigas têm bastantes coisas em comum:

  • Ambas são bonitas, bem dispostas, divertidas e bem-humoradas, e qualquer uma delas, neste ou naquele momento, já me deixaram sem reacção por serem intimidantes.
  • Ambas têm relações complicadas com o telemóvel, uma porque é o cabo dos trabalhos atender quando lhe telefono e a outra porque nem sequer tem um telemóvel, ou melhor, tem, mas só o usa para ouvir música.
  • Ambas têm peluches oferecidos por mim, e qualquer uma delas tem esse peluche em muito boa conta, sendo quase o peluche de estimação – num dos casos é mesmo - e não apenas mais um peluche.
  • Ambas já me deram muito trabalho e fizeram-me passar por situações algo bizarras relacionadas com coisas que comprei e que tive que transportar para casa sem dar muito nas vistas.
  • Ambas estão na casa dos vinte, embora medidos em unidades temporais diferentes.
  • Ambas são das poucas pessoas de quem tenho fotografias à vista em minha casa, pelo que se percebe que são duas pessoas especiais na minha vida.

Enfim, só me resta esperar que esta gripe fique mesmo curada e que o próximo fim-de-semana chegue o mais depressa possível.

domingo, 25 de janeiro de 2009

piropos (fundo do baú #2)

É impressão minha, ou estamos a perder a nossa identidade? Não me estou a referir ao documento de identificação pessoal, vulgo BI, muito embora esse esteja obsoleto e em vias de ser substituído pelo muito mais moderno Cartão do Cidadão. Estou a falar deste cantinho à beira mar plantado que dá pelo nome de Portugal.

Eu sei que vivemos na era da globalização, com tudo de benéfico e nocivo que tal fatalidade da sociedade moderna acarreta, mas há coisas que não se deveriam perder nunca, mas vamos por partes.

Há coisa duns quinhentos e alguns anos atrás, foi assinado o acordo que dividiu, em duas zonas de influência, o mundo do século XV por descobrir, para Portugal e Castela, naquilo que ficou historicamente conhecido pelo Tratado de Tordesilhas. Quem diria que nós, que agora estamos reduzidos a este rectângulo continental e a mais uns quantos apêndices ilhéus, já fomos donos de metade do mundo… Até parece mentira.

Pois é. Fomos, mas já não somos. Andamos a descobrir uma data de coisas por esse mundo fora para depois, armados em tipos porreiros, entregar tudo de mão beijada. O que é que se safou? Algumas especiarias, novelas brasileiras de qualidade manhosa e um número infindável de lojas chinocas.

Não contentes com isto, resolvemos aderir ao Euro, e contrariamente ao que se diz, não perdemos só o Escudo. Esta coisa da moeda única levou-nos o Escudo, o Pau e o Conto. Foi-se a milena, levaram-nos a quinhentola e nunca mais vamos ter o pintor. Desde 2002 que agora é tudo Euro.

Mas as coisas não se ficaram por aqui. Quem não sente saudades do belo vendedor de rua que, em dia de jogo à porta dum qualquer estádio, apregoava a plenos pulmões “É pó cu, é pó cu. É a almofadinha da bola!”? Agora os únicos pregões que se ouvem quando andamos pela rua são “Ké frô?”!

Mas agora vem a pior parte, aquela que a mim mais me dói até porque diariamente lido com essa realidade. O que é feito do belo piropo de obra? Nada tenho contra os imigrantes que trabalham nas obras, muito pelo contrário. Provavelmente se não fossem eles, muitas das obras neste país não se faziam. O que lamento é que ninguém se tenha preocupado em preservar esse símbolo nacional.

Contrariamente ao que muita gente diz, mulheres na sua maioria, o piropo de obra não é ordinário. Muito pelo contrário. Cada piropo proferido, à passagem de alguém do sexo feminino nas imediações duma qualquer obra, tem um efeito “2 em 1”.

Por um lado, provoca imediatamente na mulher em questão, uma agradável sensação de que está a ser apreciada. Mesmo que a sua reacção possa ser de desagrado, a realidade é que, no seu íntimo, a mulher fica com o ego elevado porque alguém reparou nela.

Por outro lado, o piropo tem uma vertente científica que não pode, nem deve, ser menosprezada. Permite detectar traços do perfil psicológico de quem o profere, descobrir facetas da sua personalidade e, até mesmo, enquadrar sociologicamente o indivíduo que o profere. Vejam-se alguns exemplos:

  • “És boa como o milho!” (nesta situação estamos perante alguém que é um ávido e fanático consumidor de Corn Flakes ao pequeno almoço)
  • “Oh jóia, anda cá ao ourives!” (facilmente se percebe que este indivíduo faz uns biscates a arranjar relógios na ourivesaria lá do bairro)
  • “O teu pai deve ser talhante... saíste cá uma febra!” (aqui vê-se que se estamos na presença de alguém que está habituado a fazer as compras lá para casa)
  • “Tu com tantas curvas e eu sem travões!” (um bocado à semelhança do caso da ourivesaria, neste caso estamos em presença de alguém se faz biscates na oficina de automóveis do seu vizinho de cima)
  • ”Oh princesa, deixa-me trepar ao teu castelo!” (ora cá está alguém que não perde um programa do José Hermano Saraiva e sabe tudo o que há para saber acerca das nossas dinastias)
  • “Oh filha, rebocava-te essa fachada toda!” (este é orgulho de qualquer encarregado de obra, pois é um profissional aplicado que está constantemente a pensar no bom desempenho da sua tarefa)
  • “E ainda dizem que as flores não andam!” (este é um tipo sensível, que tem como passatempo a botânica)
Hoje em dia, quando passam junto duma qualquer obra, a coisa mais parecida com um piropo que as mulheres portuguesas ouvem é qualquer coisa do estilo ““Vodka ieltsin perestroika gorbatchov putin sputnik!”, ou então “Catunga du biró dipá cusá cadê di bô!”, ou ainda “Oi? Hein? Num tô intendêndu!”.na minha modesta opinião, esta situação é intolerável. Não podemos deixar que o piropo de obra caia no esquecimento.

É urgente unirmo-nos todos à volta desta luta. Se calhar há que começar a pensar rapidamente na criação de um movimento cívico para defesa deste símbolo nacional, qualquer coisa do género “Movimento Pró-Piropo d’Obra”.

Juntemo-nos e manifestemos a nossa indignação para com a falta de interesse dos nossos governantes na preservação da identidade nacional. Sigam o meu exemplo. Não percam uma oportunidade que seja de presentear as transeuntes que circulam na periferia nas nossas obras com um genuíno piropo. Salvemos o piropo!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Anus Eleitoralis

Para quem gosta de eleições, 2009 vai ser um ano em cheio. Não vamos ter um, nem dois, mas sim três actos eleitorais ao longo do ano, embora nesta altura ainda paire no ar a possibilidade de se aglutinar as eleições legislativas e autárquicas para uma mesma data.

Seja a duplicar ou a triplicar, temos garantido um fartote de propaganda e promessa vãs, porque dêem as voltas que derem, sejam as eleições para o que forem, a ladainha dos nossos políticos é sempre a mesma.

Bastou estar atento aos noticiários deste fim de semana para se perceber que já vivemos em clima de eleições. Dum lado tivemos os líderes da oposição a criticar forte e feio o (des)governo e a anunciar que, sendo eleitos, vão fazer isto e mais aquilo e aqueloutro, ou seja, todos os clichés de quem está na oposição.

Do outro lado, tivemos o pomposo líder do (des)governo a criticar a falta de coerência e de vergonha da oposição, uma vez que só sabe criticar e são eles os grandes responsáveis pelo actual estado do nosso país, aproveitando para lançar já umas quantas pérolas, vulgo promessas, para o caso de serem reeleitos, de preferência com maioria absoluta. O costume.

Pessoalmente, já há muito que deixar de acreditar nesta classe política que temos por cá. Quem está na oposição só sabe fazer crítica destrutiva ao (des)governo, culpando-o e acusando-o de tudo e mais alguma coisa, aproveitando para ir deixando no ar umas ideias geniais que, caso fossem eles a mandar, iam retirar-nos do marasmo em que estamos atascados.

Quanto ao (des)governo, facilmente se percebe que faz precisamente o inverso, que é como quem diz culpa os seus antecessores pela estado lastimável e deplorável em que deixaram o país, motivo pelo qual não podem implementar as tão propagandeadas medidas milagrosas que iam fazer de nós uma nação de topo, ou então limitam-se a devolver as acusações e críticas com que são presenteados.

Ciclicamente os papéis invertem-se, com entrada em cena de novos protagonistas, mas nada disso altera o guião. Já era tempo desta corja ganhar vergonha na cara, mas eu sei que isso é pedir demais e que, se calhar, mais depressa ganho o euro milhões do que vejo aparecer em Portugal uma classe política credível.

Infelizmente tal não vai acontecer tão cedo, e se ainda existissem dúvidas acerca disso (como se tal fosse possível), aquilo que ouvi ontem do mais que provável líder do próximo (des)governo, que por acaso é o actual, deixou bem claro aquilo que nos espera. Lá veio a conversa da treta da descida dos impostos, do referendo acerca da regionalização ou do direito ao casamento entre homossexuais.

Baixar impostos é daquelas coisas que já perdi conta ao número de vezes que ouvi. Mesmo que baixem, eles facilmente vão arranjar maneira de nos sacar o dinheiro doutra maneira. Regionalização? Referendo? Se querem avançar com isso, uma vez que pedem maioria absoluta, deixem-se de tangas e assumam essa responsabilidade através de iniciativa parlamentar e não nos façam perder tempo.

Por fim, a abertura ao casamento civil entre homossexuais, algo que o Primeiro Minsitro de Portugal, suposto engenheiro com nome de filósofo, classifica como sendo, e passo a citar, uma vitória de toda a sociedade portuguesa. Porra, não me lixem. Chamem-me homofóbico, chamem-me os nomes que quiserem, mas se isto é o conceito de medida de fundo para um país em crise, vou ali e já venho.

Andaram um ano inteiro a atirar-nos areia para os olhos a dizer que não estávamos em crise e a apresentar estimativas irreais das taxas de crescimento económico. De repente, do nada, descobrem que afinal estamos mesmo em crise, por culpa da conjuntura mundial, e que ela é tão grande, mas tão grande, que obriga a fazer orçamentos suplementares logo em Janeiro, e uma das grandes medidas é possibilitar o casamento gay? Nas mãos desta gente vamos mesmo direitinhos ao fundo do poço.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

hipocrisia

Não me dou bem com a hipocrisia, com a mentira e com farsas. Ou seja, não sou em nada diferente da grande maioria das pessoas. Pelo menos nunca conheci ninguém que se assumisse ser algumas dessas coisas, e se alguma vez tivesse conhecido, garantidamente que não tinha criado qualquer laço de amizade com essa pessoa.

Não são só as situações de contacto directo com tais "mimos" que me deixam mal disposto. Vivemos numa sociedade hipócrita, onde algumas classes usam e abusam desses comportamentos, e nos tratam a nós, comuns mortais, como autênticos otários que engolem os sapos e seguem a sua vidinha como se nada tivesse acontecido.

Posso começar por falar na classe política, onde salvo raríssimas excepções, e são mesmo muito raras, não há nada que saia da boca de quem nos (des)governa que não soe a falso. Que merda de líderes nós temos, que se preocupam mais em fantochadas como fornecer computadores aos alunos da primária, do que em investir a sério na melhoria do ensino e na formação desses mesmos alunos.

Na recente vaga de frio que assolou Portugal, revoltou-me ver a celeridade com que a Câmara Municipal de Lisboa se prontificou a pôr em marcha um plano especial de contingência para apoiar os sem-abrigo, isto porque iam estar umas noites com temperaturas muito baixas. Não estou contra o apoiar-se quem precisa, muito pelo contrário, mas será que só deram conta que os sem-abrigo existem e precisam de ajuda, porque ia estar muito frio? É que quando voltar a estar só fresquinho, e não muito frio, os sem-abrigo vão continuar nas ruas, mas pelos vistos eles aí já vão ter que se desenrascar sem poder contar com o apoio camarário.

Hoje de manhã, ao ouvir o noticiário a caminho do trabalho, fiquei perplexo com mais uma pérola da hipocrisia que nos rodeia, e vinda duma imponente figura da nossa sociedade. Numa tertúlia na Figueira da Foz, o O Cardeal Patriarca de Lisboa alertou as jovens para o "monte de sarilhos" que é casarem com muçulmanos. Então, o lema do "amar o próximo" afinal é só conversa da treta?

Que fique bem claro que sou Católico por opção própria, embora assuma, sem qualquer pejo, estar desde há algum tempo de relações cortadas com a Igreja, por motivos que só a mim dizem respeito. Não me parece que seja com discursos destes, ou com a manutenção de lógicas retrógradas como ser abominável o uso de métodos contraceptivos, que a Igreja vai cativar as pessoas. Enfim, é este o mundo em que vivemos.


A hipocrisia existe, e existirá, como soberano absoluto de todos os poderes humanos, porque precisamos do tecido felpudo e opaco das mentiras para cobrir tudo o que por baixo da roupa nos resta ainda de hircino, de viloso e de selvagem. (Paolo Mantegazza)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gutemberg (fundo do baú #1)

Uma das coisas que gosto de fazer é reler as coisas que escrevi há 4/5 anos atrás no meu antigo blogue. Naquela altura a minha fértil imaginação criou autênticas pérolas literárias (olha a modéstia!), e como algumas delas se mantém bastante actuais, resolvi fazer algumas recauchutagens, com a devida correcção dos pontapés na gramática, pelo que de vez em quando vou aparecer aqui coisas saídas do fundo do baú.

Como bom português que sou, gosto de ter opinião sobre quase tudo e mais alguma coisa, se bem que, na maior parte dos casos, guardo as opiniões para mim porque há muita coisa sobre a qual não devia opinar. Mas hoje apetece-me opinar sobre aquilo que considero ser um dos grandes flagelos da humanidade: a tinta do papel de jornal!

Como costumo fazer quando vou almoçar, gosto de passar os olhos pelo jornal enquanto a comida não chega, por isso hoje não foi excepção. Graças a isso tive a possibilidade de descobrir que, apesar de termos andado um ano inteiro a ouvir dizer o contrário, Portugal está mesmo em recessão (quem diria), mas que apesar disso e apesar de as previsões para 2009 serem más, o rendimento dos portugueses vai aumentar porque a inflação vai ser quase nula. Muito nos aldraba esta gente que nos (des)governa.

Apesar da recessão e dos efeitos da crise económica mundial serem uma real chatice, chato mesmo é ficar com os dedos todos borrados de tinta só porque uma pessoa quer manter-se a par com a actualidade, seja ela económica, desportiva ou doutra área qualquer.

O grande culpado deste mal há muito enraizado no quotidiano de qualquer país desenvolvido, e de Portugal também, é o senhor Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutemberg, inventor alemão que se tornou famoso pela sua contribuição para a tecnologia da impressão e tipografia, vulgarmente conhecido como sendo o pai da imprensa.

O problema não reside na imprensa em si. O busílis da questão é a porcaria da tinta, porque a imprensa não suja as mãos. Pode ajudar a manchar a reputação de algumas pessoas, mas as mãos, e tudo aquilo em que depois se toca, quem as suja é a sacana da tinta, e suja-as duma maneira que quase apetece de apelidar como criminosa.

Eu acho que devia ser punido como crime o facto de uma pessoa sair de casa de manhã toda bem arranjadinha e lavadinha, dirigir-se ao quiosque mais próximo para comprar um jornalzito porque se quer manter a par com as actualidades mundanas, ler esse mesmo jornal enquanto usufrui dos prazeres indescritíveis da rede de transportes públicos (quem não se recorda com nostalgia do cheiro envolvente e sedutor do sovaco alheio, do aperto aconchegante do excesso de lotação, do cacarejar das galinhas do banco ao lado que vão a discutir a vida da vizinha de cima da empregada do primo do marido duma delas) e chegar ao seu local de trabalho com ar de quem acabou de sair de um dia de trabalho numa qualquer mina de carvão!

Já era altura de alguém acabar com este flagelo. Só que os lobbies das tintas são muito poderosos. A dura realidade é que este país está nas mãos não dos legitimamente eleitos mas sim nas mãos das famílias Robialac, Cin e Dyrup, entre outras. São piores que as máfias italianas ou de leste, que as tríades de Macau, que os Yakuza.

Enfim, enquanto há vida há esperança, e eu vivo na esperança de um dia tudo isto acabar e o mundo ficar livre destes tiranos. Vamos lá ver é se eu sobrevivo até lá. É que neste momento a minha cabeça já deve estar a prémio e, sinceramente, não me admirava se um dia destes ao acordar, deparasse com uma nódoa de tinta permanente nos meus lençóis preferidos. Acreditem em mim, esta gente é capaz das maiores crueldades.

Já que falei no pai da imprensa – já agora, quem terá sido a mãe? – aproveito a deixa para uma pequena lição de história, algo que serve para prestar serviço público, um pouco à imagem do Professor José Hermano Saraiva, mas sem o irritante tom de voz deste conceituado catedrático.

Reza a lenda que o Johannes G, nome pelo qual era carinhosamente tratado pelos dreads lá do bairro, se lembrou de inventar a imprensa quando num belo dia em que o apetite não era muito, ao invés de comer a sopa de letras que a sua mãe tinha abnegada e afincadamente preparado, despejando o conteúdo dum pacote de sopa de letras Knorr numa panela com 1 litro de água e deixado ferver durante 5 minutos sem nunca deixar de mexer , ele ficou a mirar as letrinhas a flutuarem impávidas e serenas sobre aquela aguada de aspecto gorduroso, num cenário em tudo idêntico às tainhas no Tejo lá para os lados do Barreiro.

Nessa altura, bate-lhe uma daquelas ideias luminosas, com lâmpada e tudo (fiquem descansados que não vou dissertar sobre o Thomas Edison) e começa ele a imaginar como seria se pusesse aquelas letras a secar ao sol, as colasse a uns cubos de calçada à portuguesa, pusesse esse carimbos pré-históricos num tabuleiro, besuntasse aquilo tudo com tinta de choco e espetasse com a bela da folha A4 – em papel reciclado porque ele era uma ecologista – por cima daquilo. Et voilá: da sopa se fez a imprensa.

Nenhuma lição de história fica completa sem uma pequena incursão pelos escândalos e os podres que envolviam o G, porque não nos podemos esquecer que ele tinha inventado a imprensa, mas que com ela também tinha nascido a sua gémea má: a imprensa cor-de-rosa.

Segundo o que os Cláudio Ramos da época escreveram, a Dona Gutenberg era conhecida pelas suas belas hastes, pois reza a lenda que o maluco do G teve, durante largos anos, uma amante loira de origem Dinamarquesa, da qual nasceu o seu filho bastardo, de seu nome Carlsberg.

Deixando de lado a história e voltando aos tempo actuais, e já depois de ter desabafado acerca dos lobbies tinteiros, a realidade é que esta invenção criou um dos maiores paradoxos da humanidade: como pode a mesma substância que, pelo simples gesto de pegar num qualquer jornal, nos borra as mãos todas, ser a melhor coisa que existe para, em conjunto com aquele limpa vidros, cuja marca não vou dizer mas que para os que não conhecem começa por A, acaba em X e pelo meio diz JA, limpar os vidros lá de casa?!

Claro que já houve por aí muito especialista em química que deve ter teorizado acerca deste fenómeno, tendo concluído que tal facto se deve a uma qualquer osmose molecular invertida entre a tinta e o detergente, o que leva a que a união entre esses dois materiais distintos dê origem a algo com uma imensa capacidade de agarrar toda a sujidade existente nos indefesos vidros, um pouco à semelhança do que o Teixeira dos Santos, Tex nos círculos mais íntimos, faz com o nosso dinheiro.

Pois essa teoria é falsa. Pelo menos a parte da osmose, porque a parte do Tex é bem real. Eu vou explicar o verdadeiro motivo pelo qual a tinta não afecta os vidros. É simples. A realidade é que não há tinta nenhuma para sujar os vidros, porque toda a tinta que existia foi parar às nossas mãos quando lemos o jornal! É que se fosse mesmo por causa de arranjos moleculares, ou coisa parecida, entre a tinta e o detergente, ao invés de papel de jornal mais valia usar um belo dum choco e assim juntava-se o útil ao agradável: limpavam-se os vidros e fazia-se o jantar ao mesmo tempo!!!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

MMIX

Quando um ano acaba e outro começa, existem muitos rituais enraizados, como por exemplo eleger os factos e as figuras que marcaram o ano que finda, listar os melhores filmes ou os melhores discos, mostrar as imagens do ano, basicamente eleger-se o melhor e o pior de tudo e mais alguma coisa.

Depois existe outra coisa engraçada que são as resoluções para o novo ano. Todos os anos, praticamente toda a gente faz a sua lista de desejos e objectivos a atingir e, ao bater das doze badaladas, formula esses mesmos desejos enquanto vai comendo as uvas passas.

Ora bem, é aqui que a porca torce o rabo. Logo à partida, qualquer indivíduo que não seja apreciador de uvas passas não pode fazer os desejos de ano novo, a não ser que um dia alguém se lembre que podem ser feitos com outro fruto qualquer, se bem que comer 12 ananases, ou coisa parecida, é tarefa hercúlea.

Depois há a questão da quantidade. E se a pessoa não tiver 12 desejos, será que pode participar com 6 ou 7? E os que não gastarem os desejos todos, podem doar o que sobra àqueles que precisem de mais que uma dúzia? E se puder, fica com alguma percentagem sobre os rendimentos futuros sobre esses desejos?E nos casos em que várias pessoas pedem a mesma coisa? Tipo, se houver vários a desejar tornarem-se totalistas no euro milhões, como é que isso funciona? Há lista de espera, é por ordem de chegada? Como é que a coisa se processa?

Acho que já era tempo do simplex chegar a esta temática. Pode-se criar um site para cada um poder fazer os seus desejos online, consultar o saldo de desejos dos anos anteriores, essas coisas todas.

O grande inconveniente é que em Portugal isso não ia resultar. Com a tendência do tuga em deixar tudo para a última da hora, e tratando-se dos desejos de ano novo, o serviço ia entupir de certeza!

Um bom ano para todos.