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segunda-feira, 30 de março de 2009

Primavera (fundo do baú #3)

Março aproxima-se do fim, que é como quem diz, a Primavera começou há uma semana atrás, mais coisa menos coisa, e mesmo não havendo dados estatísticos que garantam ser a melhor das 4 estações do ano, muito provavelmente é aquela que mais admiradores tem.

Quando se fala em Primavera há logo uma série de coisas que lhe são associadas. São as andorinhas que regressam aos seus ninhos para procriarem que nem umas malucas, são os dias solarengos que nos fazem esquecer do frio do Inverno que ainda agora acabou, são as paixões e os romances que, nunca percebi bem porquê, são mais propícios de acontecer nesta estação do ano, são as crises alérgicas e a febre dos fenos, enfim, é uma imensidão de coisas.

Pessoalmente, não desgosto da Primavera. Descontando a parte desagradável das alergias, todo o demais simbolismo que esta estação representa faz parte do meu imaginário de menino. Quem de nós, nos idos tempos da escola primária, sem Magalhães à mistura, não teve que redigir uma ou mais composições acerca da Primavera? E quem não teve que fazer desenhos alusivos ao mesmo tema?

Naquela altura era bem mais fácil escrever o que quer que fosse acerca da Primavera do que é agora, porque basicamente bastava falar nos dias de sol e nas andorinhas que o assunto ficava resolvido. Naqueles tempos, o flagelo das alergias ou as (eventuais) questões do Cupido passavam-me completamente ao lado. Eu gostava mesmo era de jogar à bola nos intervalos.

Agora os tempos são outros. A febre dos fenos é já uma velha conhecida, mas não deixa de ser verdade que, pelo menos para mim, a Primavera tem um significado diferente. Não digo especial, porque todas as estações são especiais, todas elas têm um qualquer significado que me faz gostar delas: o Verão equivale a férias, o Outono significa o final dos dias de calor insuportável e o Inverno é sinónimo de ficar enroscado no sofá, embrulhado num cobertor, a ver um filmezito em DVD.

A Primavera tem um efeito rejuvenescedor nas pessoas, e não estou apenas a pensar no facto de, dias mais solarengos, equivalerem a ver as mulheres vestidas com roupinhas mais leves e arejadas, e isso é algo a que se deve dar a devida importância.

Primavera é azul, alegre, leve, e acho que as mulheres ficam mais bonitas na Primavera. Não é que não o sejam no resto do ano, mas a beleza delas é realçada com a mudança de estação. É lógico que no Inverno, estação da chuva, do vento e do frio, eu estou mais preocupado em não apanhar uma molha ou a desviar-me das poças de água do que em olhar para as mulheres, e talvez por isso é que acho que elas ficam mais bonitas na Primavera.

Mas nem tudo são rosas na Primavera. Também temos, por exemplo, as margaridas, as orquídeas ou as magníficas amendoeiras em flor, para além de toda uma miríade de espécies florais que por aí abundam. A dura realidade é que há cartões de visita primaveris que não são nada, mesmo nada agradáveis, e neste caso específico estou a pensar nas andorinhas.

Apesar de achar que o contraste entre o preto e o branco da sua penugem, faz delas umas aves bonitas, considero-as más inquilinas. Não por opção, uma vez que já estavam incluídos na casa quando a comprei, tenho ninhos de andorinha numa das varandas.

Confesso que acho agradável acordar de manhã com o barulho das andorinhas, a não ser que me tenha deitado às tantas da matina e me apeteça dormir até mais tarde, mas o que não é nada, mas mesmo nada agradável, é ter de limpar a chafurdice que elas deixam na varanda.

O raio dos pássaros podem dar as festas que quiserem, convidar os familiares e amigos e ficarem a beber copos até caírem para o lado que eu não os vou criticar por isso. Dava era jeito que eles limpassem a porcaria que fazem, porque isto de ser sempre o mesmo a tratar das limpezas não me parece muito justo.

Enfim, pode ser que no próximo Inverno eu lhes dê ordem de despejo, mas até lá, com paixões primaveris ou sem elas, com maiores ou menores doses de alergias, com dias de sol e andorinhas, o que importa é que a Primavera chegou.

domingo, 25 de janeiro de 2009

piropos (fundo do baú #2)

É impressão minha, ou estamos a perder a nossa identidade? Não me estou a referir ao documento de identificação pessoal, vulgo BI, muito embora esse esteja obsoleto e em vias de ser substituído pelo muito mais moderno Cartão do Cidadão. Estou a falar deste cantinho à beira mar plantado que dá pelo nome de Portugal.

Eu sei que vivemos na era da globalização, com tudo de benéfico e nocivo que tal fatalidade da sociedade moderna acarreta, mas há coisas que não se deveriam perder nunca, mas vamos por partes.

Há coisa duns quinhentos e alguns anos atrás, foi assinado o acordo que dividiu, em duas zonas de influência, o mundo do século XV por descobrir, para Portugal e Castela, naquilo que ficou historicamente conhecido pelo Tratado de Tordesilhas. Quem diria que nós, que agora estamos reduzidos a este rectângulo continental e a mais uns quantos apêndices ilhéus, já fomos donos de metade do mundo… Até parece mentira.

Pois é. Fomos, mas já não somos. Andamos a descobrir uma data de coisas por esse mundo fora para depois, armados em tipos porreiros, entregar tudo de mão beijada. O que é que se safou? Algumas especiarias, novelas brasileiras de qualidade manhosa e um número infindável de lojas chinocas.

Não contentes com isto, resolvemos aderir ao Euro, e contrariamente ao que se diz, não perdemos só o Escudo. Esta coisa da moeda única levou-nos o Escudo, o Pau e o Conto. Foi-se a milena, levaram-nos a quinhentola e nunca mais vamos ter o pintor. Desde 2002 que agora é tudo Euro.

Mas as coisas não se ficaram por aqui. Quem não sente saudades do belo vendedor de rua que, em dia de jogo à porta dum qualquer estádio, apregoava a plenos pulmões “É pó cu, é pó cu. É a almofadinha da bola!”? Agora os únicos pregões que se ouvem quando andamos pela rua são “Ké frô?”!

Mas agora vem a pior parte, aquela que a mim mais me dói até porque diariamente lido com essa realidade. O que é feito do belo piropo de obra? Nada tenho contra os imigrantes que trabalham nas obras, muito pelo contrário. Provavelmente se não fossem eles, muitas das obras neste país não se faziam. O que lamento é que ninguém se tenha preocupado em preservar esse símbolo nacional.

Contrariamente ao que muita gente diz, mulheres na sua maioria, o piropo de obra não é ordinário. Muito pelo contrário. Cada piropo proferido, à passagem de alguém do sexo feminino nas imediações duma qualquer obra, tem um efeito “2 em 1”.

Por um lado, provoca imediatamente na mulher em questão, uma agradável sensação de que está a ser apreciada. Mesmo que a sua reacção possa ser de desagrado, a realidade é que, no seu íntimo, a mulher fica com o ego elevado porque alguém reparou nela.

Por outro lado, o piropo tem uma vertente científica que não pode, nem deve, ser menosprezada. Permite detectar traços do perfil psicológico de quem o profere, descobrir facetas da sua personalidade e, até mesmo, enquadrar sociologicamente o indivíduo que o profere. Vejam-se alguns exemplos:

  • “És boa como o milho!” (nesta situação estamos perante alguém que é um ávido e fanático consumidor de Corn Flakes ao pequeno almoço)
  • “Oh jóia, anda cá ao ourives!” (facilmente se percebe que este indivíduo faz uns biscates a arranjar relógios na ourivesaria lá do bairro)
  • “O teu pai deve ser talhante... saíste cá uma febra!” (aqui vê-se que se estamos na presença de alguém que está habituado a fazer as compras lá para casa)
  • “Tu com tantas curvas e eu sem travões!” (um bocado à semelhança do caso da ourivesaria, neste caso estamos em presença de alguém se faz biscates na oficina de automóveis do seu vizinho de cima)
  • ”Oh princesa, deixa-me trepar ao teu castelo!” (ora cá está alguém que não perde um programa do José Hermano Saraiva e sabe tudo o que há para saber acerca das nossas dinastias)
  • “Oh filha, rebocava-te essa fachada toda!” (este é orgulho de qualquer encarregado de obra, pois é um profissional aplicado que está constantemente a pensar no bom desempenho da sua tarefa)
  • “E ainda dizem que as flores não andam!” (este é um tipo sensível, que tem como passatempo a botânica)
Hoje em dia, quando passam junto duma qualquer obra, a coisa mais parecida com um piropo que as mulheres portuguesas ouvem é qualquer coisa do estilo ““Vodka ieltsin perestroika gorbatchov putin sputnik!”, ou então “Catunga du biró dipá cusá cadê di bô!”, ou ainda “Oi? Hein? Num tô intendêndu!”.na minha modesta opinião, esta situação é intolerável. Não podemos deixar que o piropo de obra caia no esquecimento.

É urgente unirmo-nos todos à volta desta luta. Se calhar há que começar a pensar rapidamente na criação de um movimento cívico para defesa deste símbolo nacional, qualquer coisa do género “Movimento Pró-Piropo d’Obra”.

Juntemo-nos e manifestemos a nossa indignação para com a falta de interesse dos nossos governantes na preservação da identidade nacional. Sigam o meu exemplo. Não percam uma oportunidade que seja de presentear as transeuntes que circulam na periferia nas nossas obras com um genuíno piropo. Salvemos o piropo!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gutemberg (fundo do baú #1)

Uma das coisas que gosto de fazer é reler as coisas que escrevi há 4/5 anos atrás no meu antigo blogue. Naquela altura a minha fértil imaginação criou autênticas pérolas literárias (olha a modéstia!), e como algumas delas se mantém bastante actuais, resolvi fazer algumas recauchutagens, com a devida correcção dos pontapés na gramática, pelo que de vez em quando vou aparecer aqui coisas saídas do fundo do baú.

Como bom português que sou, gosto de ter opinião sobre quase tudo e mais alguma coisa, se bem que, na maior parte dos casos, guardo as opiniões para mim porque há muita coisa sobre a qual não devia opinar. Mas hoje apetece-me opinar sobre aquilo que considero ser um dos grandes flagelos da humanidade: a tinta do papel de jornal!

Como costumo fazer quando vou almoçar, gosto de passar os olhos pelo jornal enquanto a comida não chega, por isso hoje não foi excepção. Graças a isso tive a possibilidade de descobrir que, apesar de termos andado um ano inteiro a ouvir dizer o contrário, Portugal está mesmo em recessão (quem diria), mas que apesar disso e apesar de as previsões para 2009 serem más, o rendimento dos portugueses vai aumentar porque a inflação vai ser quase nula. Muito nos aldraba esta gente que nos (des)governa.

Apesar da recessão e dos efeitos da crise económica mundial serem uma real chatice, chato mesmo é ficar com os dedos todos borrados de tinta só porque uma pessoa quer manter-se a par com a actualidade, seja ela económica, desportiva ou doutra área qualquer.

O grande culpado deste mal há muito enraizado no quotidiano de qualquer país desenvolvido, e de Portugal também, é o senhor Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutemberg, inventor alemão que se tornou famoso pela sua contribuição para a tecnologia da impressão e tipografia, vulgarmente conhecido como sendo o pai da imprensa.

O problema não reside na imprensa em si. O busílis da questão é a porcaria da tinta, porque a imprensa não suja as mãos. Pode ajudar a manchar a reputação de algumas pessoas, mas as mãos, e tudo aquilo em que depois se toca, quem as suja é a sacana da tinta, e suja-as duma maneira que quase apetece de apelidar como criminosa.

Eu acho que devia ser punido como crime o facto de uma pessoa sair de casa de manhã toda bem arranjadinha e lavadinha, dirigir-se ao quiosque mais próximo para comprar um jornalzito porque se quer manter a par com as actualidades mundanas, ler esse mesmo jornal enquanto usufrui dos prazeres indescritíveis da rede de transportes públicos (quem não se recorda com nostalgia do cheiro envolvente e sedutor do sovaco alheio, do aperto aconchegante do excesso de lotação, do cacarejar das galinhas do banco ao lado que vão a discutir a vida da vizinha de cima da empregada do primo do marido duma delas) e chegar ao seu local de trabalho com ar de quem acabou de sair de um dia de trabalho numa qualquer mina de carvão!

Já era altura de alguém acabar com este flagelo. Só que os lobbies das tintas são muito poderosos. A dura realidade é que este país está nas mãos não dos legitimamente eleitos mas sim nas mãos das famílias Robialac, Cin e Dyrup, entre outras. São piores que as máfias italianas ou de leste, que as tríades de Macau, que os Yakuza.

Enfim, enquanto há vida há esperança, e eu vivo na esperança de um dia tudo isto acabar e o mundo ficar livre destes tiranos. Vamos lá ver é se eu sobrevivo até lá. É que neste momento a minha cabeça já deve estar a prémio e, sinceramente, não me admirava se um dia destes ao acordar, deparasse com uma nódoa de tinta permanente nos meus lençóis preferidos. Acreditem em mim, esta gente é capaz das maiores crueldades.

Já que falei no pai da imprensa – já agora, quem terá sido a mãe? – aproveito a deixa para uma pequena lição de história, algo que serve para prestar serviço público, um pouco à imagem do Professor José Hermano Saraiva, mas sem o irritante tom de voz deste conceituado catedrático.

Reza a lenda que o Johannes G, nome pelo qual era carinhosamente tratado pelos dreads lá do bairro, se lembrou de inventar a imprensa quando num belo dia em que o apetite não era muito, ao invés de comer a sopa de letras que a sua mãe tinha abnegada e afincadamente preparado, despejando o conteúdo dum pacote de sopa de letras Knorr numa panela com 1 litro de água e deixado ferver durante 5 minutos sem nunca deixar de mexer , ele ficou a mirar as letrinhas a flutuarem impávidas e serenas sobre aquela aguada de aspecto gorduroso, num cenário em tudo idêntico às tainhas no Tejo lá para os lados do Barreiro.

Nessa altura, bate-lhe uma daquelas ideias luminosas, com lâmpada e tudo (fiquem descansados que não vou dissertar sobre o Thomas Edison) e começa ele a imaginar como seria se pusesse aquelas letras a secar ao sol, as colasse a uns cubos de calçada à portuguesa, pusesse esse carimbos pré-históricos num tabuleiro, besuntasse aquilo tudo com tinta de choco e espetasse com a bela da folha A4 – em papel reciclado porque ele era uma ecologista – por cima daquilo. Et voilá: da sopa se fez a imprensa.

Nenhuma lição de história fica completa sem uma pequena incursão pelos escândalos e os podres que envolviam o G, porque não nos podemos esquecer que ele tinha inventado a imprensa, mas que com ela também tinha nascido a sua gémea má: a imprensa cor-de-rosa.

Segundo o que os Cláudio Ramos da época escreveram, a Dona Gutenberg era conhecida pelas suas belas hastes, pois reza a lenda que o maluco do G teve, durante largos anos, uma amante loira de origem Dinamarquesa, da qual nasceu o seu filho bastardo, de seu nome Carlsberg.

Deixando de lado a história e voltando aos tempo actuais, e já depois de ter desabafado acerca dos lobbies tinteiros, a realidade é que esta invenção criou um dos maiores paradoxos da humanidade: como pode a mesma substância que, pelo simples gesto de pegar num qualquer jornal, nos borra as mãos todas, ser a melhor coisa que existe para, em conjunto com aquele limpa vidros, cuja marca não vou dizer mas que para os que não conhecem começa por A, acaba em X e pelo meio diz JA, limpar os vidros lá de casa?!

Claro que já houve por aí muito especialista em química que deve ter teorizado acerca deste fenómeno, tendo concluído que tal facto se deve a uma qualquer osmose molecular invertida entre a tinta e o detergente, o que leva a que a união entre esses dois materiais distintos dê origem a algo com uma imensa capacidade de agarrar toda a sujidade existente nos indefesos vidros, um pouco à semelhança do que o Teixeira dos Santos, Tex nos círculos mais íntimos, faz com o nosso dinheiro.

Pois essa teoria é falsa. Pelo menos a parte da osmose, porque a parte do Tex é bem real. Eu vou explicar o verdadeiro motivo pelo qual a tinta não afecta os vidros. É simples. A realidade é que não há tinta nenhuma para sujar os vidros, porque toda a tinta que existia foi parar às nossas mãos quando lemos o jornal! É que se fosse mesmo por causa de arranjos moleculares, ou coisa parecida, entre a tinta e o detergente, ao invés de papel de jornal mais valia usar um belo dum choco e assim juntava-se o útil ao agradável: limpavam-se os vidros e fazia-se o jantar ao mesmo tempo!!!